sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Testando seu nível de paranóia ou neuroticismo.

Primeiro, vamos definir a diferença entre paranoia e neurose. Paranoia faz com que o indivíduo distorça ou invente uma realidade própria. A neurose é resultado de uma negação, intolerância ou incapacidade de lidar com a realidade. 


Tanto o termo "paranoia" como "neurose" ficaram muito vagos e não são mais usados no diagnóstico psiquiátrico. O DSM  prefere classificar sintomas e comportamentos específicos. 

O que eu quero colocar aqui nesse post é sobre "traços" neuróticos e paranoicos que TODOS NÓS TEMOS, em graus e intensidades diferentes, mas que não representam necessariamente uma psicopatologia, pelo menos, a princípio. É fato, entretanto, que determinadas personalidades apresentam traços mais paranoicos e/ou neuróticos que outras. 

Exemplo de um comportamento paranoico: a mitomania. O indivíduo que mente compulsivamente, cria uma realidade idealizada ou fantasiosa e acaba acreditando nas próprias mentiras. Outro exemplo é aquele que acha que é perseguido ou que tem pessoas fazendo fofoca e conspirando contra ele (vizinhos, família, colegas de trabalho). 
Teorias conspiratórias é um bom exemplo de paranoia. O paranoico pega pedaços da realidade e cria uma realidade própria ou pode "customizar" uma realidade para que ela se torne mais palatável. Em casos mais graves, essa paranoia se evidencia na forma de alucinações. Uma pessoa excessivamente "cismada", desconfiada, tem fortes traços de paranoia. 


Exemplo de comportamento neurótico: uma pessoa que não consegue ouvir um barulho como choro de bebê (já vimos inúmeras notícias de pai ou mãe que até mataram os seus bebês por isso). Como o neurótico não consegue lidar ou tolerar certos aspectos da realidade, os exemplos são infinitos, por exemplo, uma pessoa que, mesmo você expondo e provando um fato ou argumento, mostrando por a mais b a realidade de algo, ela, mesmo assim, nega ou rejeita. A dissonância cognitiva, um mecanismo de defesa do ego que faz com que a pessoa negue ou distorça a realidade porque esta contrariaria suas crenças e também porque não ele consegue suportar ser refutado, é um comportamento neurótico. A teimosia, hipocrisia e a desonestidade intelectual são exemplos práticos de dissonância cognitiva.

Transtornos de ansiedade são clássicos sintomas de neuroticismo, assim como os transtornos alimentares e obsessivos-compulsivos. Pessoas fóbicas, ansiosas apresentam fortes traços de neuroticismo

Uma pessoa neurótica (que não tolera ou é muito sensível à realidade) pode também se tornar paranoica (justamente por não tolerar a realidade ela acaba distorcendo ou criando uma realidade própria). 


VAMOS AO TESTE

Fique em silêncio absoluto e completamente sozinho. Não ouça nada que venha de fonte artificial (rádio, TV, internet, telefone), nem converse com ninguém. Procure ficar em silêncio total. Só você com você mesmo. Pode até ficar na internet, fazer qualquer tarefa, mas tem que estar sozinho e não ouvir nada que possa distrai-lo (somente os sons naturais e aqueles sobre os quais você não tem controle, como o trânsito, o vizinho). O ideal mesmo é sentar no sofá e ficar parado. Preste atenção na sua respiração, no seu corpo, na sua postura, nos seus pensamentos e nas suas reações.


Diagnóstico:

Se você não conseguiu fazer isso e sentiu desconfortável, perturbado (a). Seu nível de neuroticismo, paranoia, agressividade e stress são altos. Procure ajuda psicoterápica urgente.

Se você conseguiu fazer, mas não por muito tempo (mínimo 20 minutos), pois sentiu falta de distração, o silêncio foi te incomodando aos poucos, se sentiu solitário ou começou a ficar desconfortável sem uma explicação, seu nível de neuroticismo/paranoia é médio/alto. Convém também procurar ajuda.

Se você se sentiu muito confortável o tempo todo, adorou a sua companhia e curtiu a experiência, parabéns, seu nível de neuroticismo e paranoia é baixo. Você exala bem estar, otimismo. equilíbrio e inspiração. As pessoas (e até os animais) devem adorar a sua companhia e presença.

Explicação:

Quanto mais saudável emocional e psicologicamente, mais confortável você se sente com a própria companhia e menos necessidade você tem de "distrações externas". A sua presença já o nutre e o satisfaz completamente. O seu relacionamento com as pessoas muito provavelmente se desenvolve de forma natural, saudável e não por necessidades inconscientes, apegos, compensações ou interesses.




terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Mudar nosso comportamento é plenamente possível, mas por que resistimos tanto ?


Em primeiro lugar vamos entender pela ótica da neurociência e da psicanálise, como funciona a nossa personalidade.

O nosso cérebro é muito parecido com um computador. Ele precisa ser "programado" (condicionado) para poder funcionar direito. O cérebro adora padrões, hábitos e, de preferência, fazer a mesma coisa sempre para obter um resultado previsível, como se fosse um software. Essa capacidade de se condicionar vale tanto para o bem, na forma de comportamentos positivos, equilibrados, adaptativos, como para o mal, na forma de comportamentos neuróticos, disfuncionais e mal adaptativos. Essa necessidade e capacidade de criar padrões, condicionamentos e hábitos proporcionam uma estabilidade funcional. Imagine se mudássemos de ideia ou de comportamento o tempo todo ? Nossa vida seria caótica e inviável, portanto, o cérebro nos induz a ter um comportamento "padronizado" visando, a princípio, o nosso próprio benefício.



Pela psicanálise a nossa personalidade (ego) adota vários mecanismos de defesa para evitar que nos tornemos muito autoconscientes e com isso, correr o risco de ser questionado, desconstruído. Isso porque o ego precisa sobreviver e se auto preservar.  O ego quer não apenas sobreviver e se manter tal como foi construído, mas, se possível, crescer e se fortalecer. Toda ou qualquer ameaça a essa sobrevivência, por exemplo, mudar padrões de comportamento, é imediatamente defendida e combatida. Psicoterapia, autoconhecimento e eventos traumáticos ou impactantes aumentam o nosso nível de consciência (nos fazem despertar do sono egoico) e isso representa uma ameaça ao próprio ego que reage nos dando uma dose maior de "sedativo" (alienação, dissonância cognitiva, fuga da realidade, fantasias, idealizações, racionalizações, introjeções, repressões, negações, etc, etc, etc, ). Como resultado, o que parecia ruim e provocava sofrimento, deixa de parecer tão ruim assim e até tem lá suas vantagens, portanto, é melhor não mexer. Isso, em parte, explica as evasões na terapia ou a resistência em fazê-la.

Nosso comportamento e personalidade são formados por sinapses, conexões neurais que se assemelham a caminhos, estradas cerebrais que foram construídas ao longo da nossa vivência, grande parte na infância, puberdade e adolescência. Nessas sinapses se formam e se estruturam os esquemas, as memórias, as nossas reações emocionais e respostas cognitivas às experiências. Com o tempo, essas respostas e reações passam a percorrer sempre os mesmos caminhos, as mesmas estradas. Essas estradas cerebrais construídas na infância são as mais estruturadas, arraigadas, profundas e difíceis de serem trabalhadas no sentido de desconstrução ou de se criar sinapses alternativas a elas gerando novos padrões e um novo comportamento. Memórias e padrões formados na vida adulta são relativamente fáceis de serem reestruturados e substituídos por novos padrões porque se constituem basicamente de crenças e ideias introjetadas.

Além dos mecanismos de defesa, existe mais um componente fundamental que explica o porquê insistimos em adotar o mesmo comportamento e tendemos a rejeitar qualquer tentativa de mudá-lo; chama-se : GANHO SECUNDÁRIO.

O ganho secundário é uma espécie de "recompensa" do ego para o indivíduo manter o seu padrão de comportamento. Todo comportamento, por mais nocivo, bizarro, esdrúxulo, irracional, ilógico e mal adaptativo que seja, tem uma razão de ser e essa razão visa atender a uma NECESSIDADE emocional ou psicológica, podendo também ser uma espécie de compensação.  Ganho secundário é um prazer momentâneo, mas muito viciante e enebriante. Pode ser uma baixa da ansiedade, do medo, uma sensação de alívio, pode ser uma sensação de orgulho, uma elevação da autoestima e até um prazer físico. Alguns ganhos secundários podem ser mais explícitos e objetivos como uma vantagem financeira, ganho de atenção, comida, bebida, drogas, mas muito cuidado porque não se pode confundir ganho secundário com "segundas intenções"ou manipulações e desculpas. O ganho secundário é INCONSCIENTE, a pessoa não consegue perceber a dinâmica comportamento-recompensa. Ter um caso fora do casamento não é um ganho secundário para explicar a infidelidade ou problemas na relação. Beber ou se drogar na festinha não são ganhos secundários porque "eu tive uma infância difícil". Mentir ou manipular DELIBERADA E CONSCIENTEMENTE para conseguir alguma coisa ... Tudo isso não é ganho secundário.



Um exemplo de um comportamento mal adaptativo e seu respectivo ganho secundário : um indivíduo que se sente inseguro em lidar com novas experiências, se apegando muito à rotinas e à segurança. Como resposta a esse esquema ele se torna refratário às mudanças e foge das situações que se mostram desafiantes demais, além de ser super desconfiado e não se comprometer com nada nem com ninguém que represente algo novo, diferente ou desconhecido.

Ao fugir ou rejeitar em lidar com novos desafios e experiências e se apegar às rotinas, ele usa primeiro o mecanismo de defesa da "racionalização", inventando desculpas bem elaboradas, tentando encontrar defeitos e aparentes incoerências para justificar sua rejeição ao "novo". O ego então lhe da a recompensa, o seu ganho secundário na forma de um alívio muito grande da ansiedade, do sentimento de culpa, inferioridade e inadequação e até um sentimento de orgulho por ter feito uma análise "racional" (?!!!) da questão. Ele vai para casa se sentindo relativamente bem, sem conflitos, mas tendo como resultado a perpetuação e o reforço do seu esquema e do comportamento mal adaptativos e pode ter perdido mais uma oportunidade de inúmeras com as quais ele se deparou. Passado algum tempo, ele reclama que a vida dele parece não andar e que "as portas estão sempre fechadas". Não sabe o porquê disso e culpa pessoas (projeção) e o próprio "azar" ou destino (projeção e idealização).
Mesmo que a pessoa tenha consciência que o seu comportamento é disfuncional e lhe causa prejuízos, ela só vai se motivar a mudar se a dor, o sofrimento e os danos causados por esse comportamento forem MAIORES e MAIS FORTES que o prazer e a recompensa do ganho secundário. 
 O ego odeia mudanças, ser investigado, questionado e vai fazer de tudo para que o indivíduo não se convença da necessidade de mudar. Tem pessoas que usam a própria dor e o sofrimento como ganho secundário visando chamar a atenção para si ou chantagear emocionalmente na tentativa (sempre inconsciente) de conseguir o que quer. Um exemplo disso são pessoas que tentam suicídio, se drogam, se auto mutilam ou são alcoólicas. Elas sabem que as consequências dos seus atos são nefastas, mas não conseguem deixar de fazê-los porque o "prazer" ou a "recompensa"do ganho secundário é muito mais forte e irresistível na forma de troféu ou arma de manipulação para atingir pessoas, se vingarem, conseguir chamar a atenção, compensarem vazios existenciais, frustrações, necessidades emocionais não atendidas ou abusos. Isso não significa que todos nesta condição o fazem por esses motivos, cada caso é um caso, mas eu, particularmente, acredito que há uma forte tendência nessa direção.



Outro fator que facilita o processo de mudança é um evento traumático ou uma experiência muito marcante e significativa. Isso porque o evento ou experiências criam novas e fortes sinapses cerebrais quase que instantaneamente. Parece mágica.

Um dado muito interessante é que a nossa personalidade consegue fazer "micro mudanças" o tempo todo, todos os dias. Basta estar vivo para que tenhamos que nos adaptar ao ambiente, às experiências. Essa flexibilidade natural (neuroplasticidade) nos permite realizar essas micro mudanças, no entanto, além de serem totalmente inconscientes, as sinapses não se fortalecem porque não há uma repetição, falta consistência e com isso os caminhos cerebrais não são "asfaltados"e a nova habilidade e o novo comportamento meio que se perdem. Parecido com a memória RAM do computador, a memória volátil. Essas micro mudanças são decorrentes de situações inusitadas e aleatórias que não se repetem. De repente a pessoa sofre um acidente de trânsito (ninguém sofre acidente de transito todos os dias) e com isso teve que se ajustar de algum modo para poder lidar com a situação. Chegar atrasado a um evento importante ou esperar por alguém que se atrasou, enfim, essas pequenas adaptações que representam micro mudanças provam que o nosso cérebro é maleável o suficiente para mudar. Da mesma forma como produzimos micro mudanças, podemos também realizar grandes mudanças.   



A MUDANÇA 

A chave para a mudança é criar novas sinapses cerebrais que deem caminhos alternativos para um novo comportamento, que aponte para uma nova direção. Não tem como apagar as memórias ou desconstruir as sinapses antigas, embora fosse, em tese, a forma mais rápida e prática de mudar um comportamento. No filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", havia uma máquina "apaga sinapses" que deletava as memórias antigas e dolorosas, mas nem no filme isso deu certo.

Uma das estratégias psicoterápicas mais eficazes é quebrar o círculo vicioso "comportamento-ganho secundário", mas não é tão simples assim. As dificuldades que o ego impõe são inúmeras. Em algumas pessoas é como um exorcismo. Tentar tirar o ganho secundário puro e simplesmente não funciona. Há crises de abstinência. O indivíduo sente-se péssimo e muito pior do que quando chegou à psicoterapia e o risco dele desistir é enorme. Uma das inúmeras estratégias é gerar um novo ganho secundário para o novo comportamento, tudo isso a quatro mãos e em comum acordo (psicoterapeuta e cliente), mas dessa vez, um ganho secundário funcional, adaptativo. Ao mesmo tempo, provar que o comportamento antigo e o seus respectivos ganhos secundários só trouxeram prejuízos, expor e quantificar esses prejuízos.
Não há medicamento milagroso nem uma máquina mágica que consiga fazer toda essa mudança; só a psicoterapia é capaz de fazer esse trabalho. Há várias técnicas e abordagens psicoterápicas que facilitam esse processo, mas psicoterapia não é uma ciência exata nem uma receita de bolo. Cada indivíduo responde de um modo distinto à abordagem, portanto, não é possível elaborar uma estratégia que seja efetiva e funcione para todos sem distinção. O terapeuta, portanto, precisa dominar um arsenal de técnicas psicoterápicas e, em conjunto com o seu talento e experiência, "customizar" uma estratégia que funcione.


LIMITE GENÉTICO

Cada um de nós nasceu com um código genético que define nossos potenciais e limitações. No caso da psicoterapia, nem todos os indivíduos vão alcançar um nível excepcional de desenvolvimento, de saúde mental e psicológica. Da mesma forma que cada um tem um limite físico e até de inteligência cognitiva, há também um limite para a inteligência emocional. O importante é que cada um trabalhe para atingir o seu nível máximo de inteligência emocional e acalçar o seu limite genético. É muito comum testemunhar esse desnivelamento na terapia de casal. O terapeuta é o mesmo, a abordagem é a mesma, mas o ganho e a forma como cada cônjuge absorve e se desenvolve na psicoterapia varia bastante. De qualquer forma, o ganho em conjunto acaba beneficiando muito o casal, independente se um cresceu ou aproveitou mais a psicoterapia do que o outro.





TERAPIA DO ESQUEMA

Mudanças importantes e significativas de comportamento que afetam positivamente a qualidade de vida não só são possíveis como podem ser conseguidas de uma forma relativamente rápida (meses). Vai depender da motivação, do limite genético, do talento e experiência do psicoterapeuta e da estratégia psicoterápica. Neste aspecto, a Terapia do Esquema se mostra como a abordagem psicoterápica extremamente efetiva, poderosa e moderna para proporcionar essas mudanças.



sábado, 17 de dezembro de 2016

Velhinha super sincera acaba com Jô Soares (Eneatipo 8 em ação)

Como é o comportamento "sincericida" do Eneatipo 8 ? No Eneatipo 8 a atuação e influência do superego (filtro social) é diminuta. Como resultado, ele não se importa muito com convenções sociais nem com o que os outros acham ou irão achar dele. A exposição do ego é mais explícita, sem filtro. Não está nem aí. "Sou o que sou gostem ou não". Vejam um exemplo super engraçado.

domingo, 4 de dezembro de 2016

  • Psicoterapia individual, em grupo, casal, família;
  • Transtornos de personalidade, alimentares, de ansiedade e ajustamento (separação, demissão, qualquer tipo de mudança), ansiedade e depressão, dificuldades de relacionamento, síndrome do pânico, TOC, fobias, dependência química e alcoólica;
  • Avaliações e diagnósticos: "O que está acontecendo comigo e com a minha vida ?
  • Atendimento presencial (consultório), em domicílio ou online (skype, hangout); 
  • Linha de trabalho e abordagem terapêutica: Terapia do Esquema.  

              


        • Cursos, treinamentos, workshops e palestras sobre psicoterapia, terapia do esquema, psicanálise, eneagrama, MBTI, inteligência emocional, desenvolvimento pessoal e profissional, missão de vida, descobrindo seus dons e talentos. 






          • Consultoria Corporativa, Coaching Executivo e de Gestão. Foco no aumento da produtividade, competência, desempenho e satisfação profissional. Gestão de crises. Redução de conflitos e turnover. Melhoria do clima organizacional. Orientação profissional, de negócio e carreira. Treinamento e desenvolvimento do estilo de liderança. 









          quarta-feira, 30 de novembro de 2016

          Uma visão Psicanalítica sobre o Acidente Aéreo e o Tabu da Morte





          Todo mundo vivenciou uma comoção nacional em função do acidente aéreo que vitimou a equipe de futebol da Chapecoense, além de jornalistas conhecidos. A internet "parou", programas de TV mudaram sua programação para noticiar e debater sobre o ocorrido. Até nas ruas se ouvia comentários. Qual a nossa análise psicanalítica sobre toda essa reação emocional ?

          A nossa sociedade ocidentalizada, escravizada pelo ego, não sabe lidar com a morte, com a ideia de que a nossa fugaz existência terá inexoravelmente um fim. Essa questão é um tabu. O ego enxerga a morte como uma perda e ele, definitivamente, não sabe perder. Como estratégia, induz o indivíduo a uma busca pela imortalidade no refúgio e conforto ilusório das religiões ao mesmo tempo em que ativa o mecanismo de defesa da "repressão" o qual tira da consciência todo desconforto, medo, ideia, lembrança, representação sobre a morte evitando reações neuróticas. Se não usássemos a repressão, uma provável ideação mórbida e um sentimento de vulnerabilidade permeariam nossa consciência o tempo todo e provocariam reações mal adaptativas. Imagine acordar todos os dias e começar a pensar : "será que vou morrer hoje ? A repressão, portanto, ajuda a nos livrar desses neuroticismos entretanto, como consequência, nos faz esquecer do quão frágil, efêmera e vulnerável é a nossa vida e que vivemos numa contagem regressiva existencial. Tomamos decisões e fazemos escolhas que talvez não fizéssemos caso tivéssemos uma consciência mais equilibrada e madura sobre nossa própria finitude. Uma outra consequência da repressão é que, quando há um fato chocante e inesperado, como neste caso do acidente aéreo, a dramaticidade da situação faz romper esse mecanismo psicológico colocando na consciência todo volume reprimido mal digerido e elaborado sobre a morte, trazendo a reboque uma gama de sentimentos confusos e desestruturados. É a explicação para toda essa comoção e reação quase catártica. De repente, num rompante inesperado, a morte passa de um conceito ou ideia longínqua, para uma representação muito próxima, viva, tangível, real e todo esse processo assusta e fragiliza.

          Esse sentimento de "solidariedade" diante da catástrofe é mais um subterfúgio do ego, uma transferência das nossas fragilidades, medos recalcados e negados, agora emergidos, do que propriamente uma manifestação espontânea de empatia com os que morreram. Mesmo assim, esse estado não dura muito tempo. Logo o mecanismo da repressão irá agir novamente em conjunto com outros mecanismos como a racionalização e começaremos a sentir um certo alívio, uma "felicidade agridoce". As pessoas se darão conta de que elas estão vivas, sãs e salvas e o processo de repressão será ativado gradualmente. O resultado são aquelas mensagens clichês tais como; "precisamos viver o presente", "o amanhã é o agora" e coisas desse tipo. Em seguida, numa terceira fase, o medo da morte é novamente recalcado, a vida segue o seu fluxo e nos comportamos como se nada tivesse acontecido (exceção para os parentes e pessoas próximas das vítimas). Agiremos da forma "padrão"; como se fôssemos poderosos, imortais e atemporais, até o próximo desastre.

          terça-feira, 22 de novembro de 2016

          Curando a Vaidade Neurótica


          Parte da nossa sociedade é obcecada por imagem, "por ficar bem na foto" e, como resultado, julga pelas aparências. Esse padrão nada mais é do que um reflexo da baixa autoestima crônica que força o indivíduo a buscar reconhecimento e aprovação. Ser como é não parece suficiente. É preciso ser "algo a mais" e para isso há uma busca neurótica por reconhecimento,  admiração, validação e aprovação dos outros. Como combater essa neurose ? Se comportando conscientemente no modo oposto ao padrão. Buscando ser o mais autêntico, verdadeiro, simples e transparente possível. Não negar fracassos, fraquezas, limitações ou imperfeições e não cair na tentação de buscar essa validação. É como um vício. Da um sensação gostosa. Esse prazer é o que chamamos de "ganho secundário". Conseguir superar e viver sem essa tentação, sem esse ganho secundário é a chave para a quebra do padrão e consequentemente a cura. O ego é ardiloso e pode disfarçar a vaidade fazendo-a parecer uma virtude. Tem gente que é super vaidosa e orgulhosa bancando a humilde, solidária ou prestativa. Tem gente que é vaidosa bancando a ponderada, tolerante ("não discuto, não entro em conflitos nem me meto em polêmicas"). A vaidade pode se esconder nas atitudes (muitas vezes sutis) e não apenas nas aparências. Quando começar a sentir aquela tentação de se valorizar (ganho secundário), desperte e mate o ego de fome; quebre o padrão com raiva, energia. Sinta o desconforto. Em geral sente-se uma tristeza, uma mágoa, vergonha ou uma sensação de apequenamento e humilhação. Aguente firme porque a cura virá com consciência, persistência e consistência. Se sentir abstinência do ganho secundário, procure ajuda psicoterápica. 


          Relação Terapêutica

          Relação terapêutica não significa ser cúmplice ou "amiguinho" do consulente, muito pelo contrário. Relação terapêutica significa que o consulente enxergará no terapeuta a figura do adulto saudável que ele, consulente, nunca teve dos seus cuidadores e também nunca desenvolveu internamente. Isso significa que muitas vezes o terapeuta imporá limites ao comportamento do consulente. O principal ingrediente dessa relação terapêutica é a compreensão empática e neste aspecto, a ACP (abordagem centrada na pessoa) de Carl Rogers, é muito útil e pode servir como diretriz e plano de fundo. Uma questão é certa: as necessidades emocionais não atendidas ou frustradas somente conseguirão ser reparadas e curadas ao longo das sessões mediante o fortalecimento da relação terapêutica. Nenhuma técnica psicoterápica conseguirá. Eu diria que a principal causa de um fracasso da terapia ou evasão do consulente tem a ver com a falta de empatia nessa relação terapeuta-paciente. E digo mais; essa falta de empatia com o paciente e vice-versa tem como causa os esquemas do próprio terapeuta que foram ativados durante as sessões, os quais sabotaram e inviabilizaram a terapia. Mas essa questão será abordada em outro post.

          sábado, 19 de novembro de 2016

          Inibição Emocional

          Uma grande parte dos homens tem esquema de inibição emocional que os fazem reprimir e se distanciar das próprias emoções. O nível de maturidade emocional desses indivíduos é de uma criança. O comportamento se torna frio, distanciado, rígido, pouco empático e "racional demais". Aprendem inconscientemente a usar com maestria vários mecanismos de defesa como a negação, repressão, deslocamento, racionalização, projeção, formação reativa, resistência, somatização, supressão ... o uso desses mecanismos vai depender da situação, juntamente com o temperamento e a personalidade. Esse esquema de inibição emocional reflete uma necessidade emocional não atendida de apoio e acolhimento. Os pais pareciam distantes, frios, controlados. A criança não se sentia acolhida emocionalmente. Aprendeu a "engolir o choro" e a lidar internamente com o sofrimento, angústias, medos e conflitos. Aprendeu que sentir e demonstrar emoções é sinal de fraqueza ou inadequação. A nossa cultura machista reforça essa condição ("homem não chora, tem que ser durão"). Como aprenderam a não identificar nem lidar com as próprias emoções, estas são vistas como inimigas, algo a ser evitado, uma criptonita que enfraquece o "Super Homem". Quando um homem com inibição emocional libera as suas emoções reprimidas numa sessão, ele se desmancha, há uma catarse, um choro reprimido há décadas. Um cliente meu de 54 anos chorou de soluçar por mais de 30 minutos e disse que a última vez que chorou tinha sido aos 11 anos quando foi morar na casa dos avós se sentindo rejeitado pelos pais que escolheram cuidar apenas dos seus irmãos gêmeos. Quem tem esquema de inibição emocional trabalhado e desconstruído aprende a identificar, entrar em contato e manejar suas próprias emoções. O resultado é uma mudança quase que radical na visão de mundo, valores, cognição, com reflexos diretos no comportamento. Há uma transformação muito positiva, saudável e marcante, mas que precisa ser acompanhada pelo psicoterapeuta. É como um renascer.

          segunda-feira, 14 de novembro de 2016

          Demonstração prática, verdadeira e explícita do complexo de Édipo

          É nesta fase que a criança começa a estruturar seus esquemas do domínio de "DESCONEXÃO E REJEIÇÃO" relativos aos relacionamentos afetivos. Caso haja abusos, negligências ou ambiguidades por parte da mãe nesse "caso de amor ", o menino pode fazer esquemas de abandono e defectividade, se tornando um adulto inseguro, ciumento e possessivo. O mesmo se sucede em relação às meninas, no caso, o "complexo de Electra". A menina se "apaixona" pela figura masculina do pai. Um pai ausente, abusivo, fraco ou negligente causará uma ferida emocional que se refletirá nos relacionamentos afetivos. A mulher pode se tornar uma viciada em amor; uma codependente. Sua necessidade emocional de sentir-se plenamente amada pelo parceiro parece que nunca é saciada.

          quinta-feira, 10 de novembro de 2016

          Terapia do Esquema = Trabalho com "Modos"


          Terapia do Esquema = Trabalho com "modos". Eu insisto muito nisso porque é o que se convencionou pelo próprio Jeffrey Young já desde 2008. Não se trata os esquemas individualmente. Um esquema nuclear pode ter (em geral tem) vários esquemas subjacentes atrelados a ele num efeito cascata e ainda com vários estilos de enfrentamento distintos, portanto, tratar esquemas isoladamente se mostrou inviável, logo, a Terapia do Esquema implica em trabalhar com modos. Um erro muito grave de conceito, mas bastante comum que eu vejo por aí é tratar esquema com se fosse uma crença. Esquema é basicamente "memória emocional" que fica registrada, "inflamada" na amígdala, na região do hipocampo no sistema límbico. O paciente simplesmente reage ao gatilho do esquema e nem sabe porque. Ele não tem controle nem consciência alguma sobre isso. Não adianta pedir para ele descrever os" pensamentos automáticos". Não funciona desse jeito. O paciente sente os efeitos do esquema e pronto ! O objetivo da Terapia do Esquema é justamente reparar esse "trauma" (as reações aos esquemas ativados se assemelham à traumas) fazendo a reparação parental, REESTRUTURANDO EMOCIONALMENTE o paciente, dando a ele o que ele nunca teve dos pais ou cuidadores, além de rever e "macerar" toda sua história afetiva e emocional. Também são criadas novas sinapses que permitirão ao paciente controlar conscientemente suas respostas aos esquemas ativados não mais através da amígdala, mas pelo córtex pré frontal. O trabalho com modos simplifica e torna tudo isso bem mais manejável e mensurável. Mas o que eu quero mais salientar é que a Terapia do Esquema (trabalho com modos) pode e deve ser aplicada em QUALQUER hipótese diagnóstica, das mais simples aos casos mais complexos. O terapeuta do esquema tem um leque, um arsenal terapêutico e uma flexibilidade de atuação que é muito efetivo e superior. Quem adota a Terapia do Esquema como linha de trabalho sente-se preparado para enfrentar qualquer paciente em qualquer condição.




          sábado, 5 de novembro de 2016

          O retrato de um NARCISISTA


          Como se comporta uma pessoa que tem os seguintes esquemas resignados: Arrogo/Grandiosidade, Inibição Emocional, Reconhecimento/ Aprovação e Postura Punitiva ? Resultado : Transtorno de Personalidade Narcisista.


          quinta-feira, 3 de novembro de 2016

          Ego e realidade são incompatíveis


          A nossa "personalidade" ou "ego" é uma máscara que usamos (inconscientemente) para lidar e interpretar subjetivamente uma realidade que é OBJETIVA E NEUTRA. Quando nos identificamos com o ego o resultado é um só : sofrimento. Sofremos porque a realidade quase nunca "bate" com as interpretações, expectativas e desejos dele.  O ego nos faz interpretar e interagir com uma realidade que não existe. Somos iludidos e enganados o tempo todo. A solução seria nos livrarmos dele, mas a maioria faz justamente o oposto; se apega ainda mais e decide entre fugir, negar ou brigar com a realidade. O resultado é ainda mais sofrimento.

          terça-feira, 1 de novembro de 2016

          A Terapia do Esquema na Depressão

          Olá, seja bem vindo ao meu blog Terapia Intensiva. O assunto de hoje é a Depressão. A abordagem desse artigo será sob a ótica da minha especialidade: A Terapia do Esquema.





          A despeito de existirem várias classificações de depressão, vou me fixar no meu ponto de vista acerca do tema onde os esquemas assumem um papel crucial e determinante.

          Eu classifico basicamente a depressão em três vertentes : a depressão crônica, incapacitante, onde a pessoa já tem um histórico depressivo ao longo da vida, a depressão ocasional, "factual", engatilhada por uma circunstância externa, um fato ou uma experiência difícil de assimilar, entender, aceitar ou digerir emocionalmente, a pessoa da uma "balançada", há uma limitação psicológica momentânea que provoca a depressão, mas que, num tempo relativamente curto, no máximo em 3 meses, ela já começa a se recuperar e o mais importante, ela não tem recaída, o que passou, passou.  E tem a distimia, que vem a ser uma alteração crônica de humor, onde a pessoa não necessariamente fica incapacitada, mas a qualidade de vida dela é afetada por essa condição distímica.

          Tanto na depressão crônica como na distimia pode existir, muito provavelmente, uma comorbidade de natureza psiquiátrica, um desequilíbrio bioquímico cerebral, mas vou focar esse artigo, como já me referi,  às causa psicológicas sob o ponto de vista da Terapia do Esquema.

          A depressão crônica, onde o período depressivo em geral é extenso (mais de um ano com oscilações de intensidade), o indivíduo tem um histórico de quadros depressivos ao longo de toda sua vida, começando na infância, se intensificando na adolescência e passando a ser crônica na vida adulta, com raros períodos de intervalo, mas oscilando entre um quadro forte, incapacitante, até com internação, com períodos melancólicos em que não há necessariamente prejuízo funcional. Pode ocorrer, em casos de transtorno bipolar ou de personalidade borderline e até na esquizofrenia, uma condição em que as depressões crônicas surjam com mais intensidade já na vida adulta, em ciclos e atuando em comorbidade com as "viradas maníacas" (períodos de euforia), mas eu, particularmente, questiono essa premissa. Penso que nestes casos  esses pacientes já apresentavam quadros depressivos e viradas maníacas na infância, mas que, provavelmente, foram subdiagnosticados ou subtratados.

          Alguns classificam a depressão crônica como puramente biológica, no que eu também discordo. Mesmo que a causa primária seja efetivamente um desequilíbrio bioquímico cerebral, vai ocorrer a mesma situação como na ansiedade; independente desse desequilíbrio nos neurotransmissores ser uma herança genética ou uma doença congênita, esse quadro acaba se tornando um dos fatores decisivos na formação dos esquemas, ou seja, de qualquer forma, a criança que nasce com esse desequilíbrio bioquímico sofre influência dessa morbidade na construção da sua personalidade e temperamento. No caso do ansioso, ele se torna uma pessoa de personalidade fóbica e no caso do deprimido, a personalidade fica toda estruturada num padrão emocional melancólico.

          Existem três esquemas que, ativados juntos, reforçados pelo temperamento, o qual determina o estilo de enfrentamento desses esquemas, provocam um quadro de depressão crônica e profunda; senão, vejamos: esquema de negativismo/pessimismo, onde a visão de mundo e de futuro é muito negativa e limitada. Esse esquema da uma sensação permanente de que nada vai dar certo, está tudo muito ruim e sempre estará. Não há esperança; esquema de defectividade, onde se concentra a chamada "baixa autoestima" e a autoimagem negativa. A pessoa com esse esquema nutre um sentimento de que é falho, sem valor, algumas vezes desprezível, podendo se sentir um "lixo"e por fim o esquema de privação emocional, onde há, inconscientemente, uma certeza de que não se é querido, não se é amado por ninguém e que ninguém se importa.

          A pessoa com depressão crônica fica aprisionada nesses três fortes e enraizados esquemas. Ela não tem esperança no futuro, sente que não é amada por ninguém e que não tem valor algum. Ela sente que não nasceu nem merece ser feliz. Os esquemas se intensificam e se reforçam uns aos outros. O temperamento melancólico e resignado intensifica e reforça ainda o quadro. As ideações suicidas são muito frequentes. O risco de perpetrar o suicídio é alto. 
          Formamos, com isso, um equação que explica a depressão crônica  :

          Esquema de defectividade + Esquema de negativismo/pessimismo + Esquema de privação emocional  + Temperamento melancólico = Depressão Crônica


          Na depressão "ocasional" ou "factual" pode acontecer da pessoa ter um desses esquemas o que já é condição suficiente para se deprimir (imagina com três esquemas ao mesmo tempo ! ), por exemplo, ela tendo um esquema de defectividade, ocorre um rompimento de relacionamento que ativa e intensifica sua baixa autoestima. Se tiver um temperamento melancólico e consequentemente uma resposta resignada, vai sofrer bastante, ficar na "fossa" e levar mais tempo para se recuperar, mas conseguirá se recuperar. Provavelmente precisará de ajuda psicoterápica para superar esse momento, mas mesmo que isso não aconteça, conseguirá se reerguer desde que não tenha os demais esquemas que formam a equação depressiva crônica. Na depressão ocasional a pessoa, a despeito de ficar bem abalada, não fica incapacitada. Consegue trabalhar (mal, mas consegue), se mantém relativamente funcional. Geralmente leva um mês ou 40 dias para começar a se recuperar. Passou de 40 dias e não se recuperou ou pelo menos começou a melhorar, deve se acionar o alerta para monitorar esse quadro depressivo. Se passar de três meses é necessária uma outra avaliação. Vale lembrar que nesses casos de depressão ocasional, a pessoa sai do quadro depressivo, mas ainda pode ficar "machucada" e a cicatrização pode levar anos, tal qual um processo de luto.

          Quem tem os três esquemas (privação emocional, defectividade e pessimismo/negativismo) já tem histórico de depressões longas e fica extremamente suscetível a ter recaídas. A pessoa consegue se recuperar por algum tempo depois de um longo período depressivo, mas retorna ao quadro de depressão porque o padrão, o "normal" é ficar deprimido. Na verdade, esse período de recuperação é enganoso e passageiro, é apenas um intervalo entre uma fase depressiva e outra. Não representa uma melhora. A cura só virá quando forem tratadas as feridas emocionais que criaram os três esquemas, fora isso, tudo será apenas paliativo. 

          Existe uma outra condição depressiva que é chamada de "distimia". A distimia também é uma depressão crônica, mas com algumas diferenças. A pessoa distímica em geral não tem o esquema de defectividade, portanto, a sua autoimagem é relativamente boa. Na verdade, o distímico pode ter como esquema nuclear principal o negativismo/pessimismo. O que falta ao distímico é ESPERANÇA e CONFIANÇA no futuro e nas pessoas. Ele confia nele. Acha que o mundo funcionaria melhor se existissem pessoas com a mentalidade dele. Uma curiosidade é que o temperamento do distímico em geral não é melancólico. Ao invés de tristeza, o que ele nutre e sente na verdade é raiva na forma de ressentimento, intolerância, crítica e impaciência. Enquanto que o depressivo crônico acha que o mundo seria melhor sem que ele existisse, o distímico acha que ele ficaria melhor se todos sumissem do mapa. A culpa é dos outros, os outros é que enchem o saco dele. Essa visão de mundo denota um esquema de isolamento social ("não me encaixo nesse mundo nem me identifico com ninguém"), padrão inflexível (perfeccionismo) e inibição emocional ( falta de empatia com os outros).

          O distímico é antes de tudo um mal humorado, ranzinza, azedo, amargo, um chato de galocha. Ele sofre ? Claro que sofre. Mas o sofrimento é reprimido, além dele hipercompensar e inverter o jogo. Ele provoca (projeta) nos outros os sofrimentos dos esquemas dele. O seu temperamento agressivo o ajuda a hipercompensar se colocando no polo oposto aos seus esquemas o que o faz se distanciar deles, mas ao mesmo tempo em que os fortalece e perpetua.


          Pode acontecer do distímico ser melancólico e ficar choramingando pelos cantos o tempo todo ? Pode, não é tão comum, mas pode. É o perfil da pessoa amargurada, magoada com a vida, que anda com uma nuvem cinzenta sobre a cabeça, parecendo que o mundo deve a ela alguma coisa. A felicidade dos outros a incomoda (provoca inveja) e todas as atitudes positivas das pessoas é vista com desconfiança. Neste caso, ela usa a depressão para manipular e alimentar um ganho secundário importante: chamar a atenção sobre si. Precisa de atenção desesperadamente, mas finge que não se importa e sente um vazio muito grande, podendo ter um esquema de abandono hipercompensado (abandona o outro primeiro), isolamento social e/ou inibição emocional. O distímico antes de tudo é um hipercompensador, portanto, ele não sofre tão profundamente como o depressivo crônico, nem fica incapacitado. Ele trabalha normalmente e tem uma vida aparentemente "normal". Difícil é conviver com ele.


          O Tratamento.

          O deprimido ocasional, a princípio, não precisa de medicação nem de tratamento psicoterápico. Só de tempo e apoio emocional para digerir o que aconteceu e reestruturar a experiência por conta própria. Caso necessite de ajuda psicoterápica, a terapia será breve e o alvo focará na reestruturação cognitiva, mas recomendo que o trabalhado foque na cura do esquema que provocou a depressão. A Terapia do Esquema pode ser aplicada em qualquer caso ou diagnóstico, dos mais simples aos mais complexos e difíceis.

          Em relação ao deprimido crônico, esse precisa tanto de medicação como, principalmente, de psicoterapia, no caso, a Terapia do Esquema. A medicação vai ajudar na estabilização para permitir que ele fique em condições de tirar proveito da terapia. O que a terapia do esquema faz é curar as feridas emocionais que geraram os esquemas, além de criar novas sinapses cerebrais onde o paciente terá uma resposta adaptativa e funcional às circunstâncias adversas de vida, prevenindo as recaídas, além da consequente mudança da auto imagem.   

          A abordagem cognitivo-comportamental tradicional (Beck) não funciona para esses casos de depressão crônica. A recidiva é de quase 70%. Não adianta reestruturar a tríade da depressão porque esquemas não são crenças. Esquemas são basicamente "memórias emocionais" que produzem reações inconscientes e automáticas na região do hipocampo no sistema límbico. Não há espaço para cognições nem pensamentos automáticos. Basicamente o paciente  reage muito mal quando os gatilhos dos esquemas são ativados e nem sabe o porquê.  A cognição é apenas uma parte da camada a ser trabalhada. Além disso, essas feridas emocionais ou frustrações podem ter sido causadas por abusos, privações ou maus tratos, razão pela qual o paciente reage aos esquemas como se os mesmos fosses traumas.

          O trabalho com modos se encaixa perfeitamente neste caso de depressão crônica devido à complexidade, número de esquemas envolvidos e estilos de enfrentamento. A estratégia seria reestruturar os modos de enfrentamento desadaptativos resignados, alcançar a "criança vulnerável", fortalecer o "adulto saudável" e fazer a reparação parental quantas vezes forem necessários até a cura de todas a feridas e necessidades emocionais.

          O distímico também se beneficiará muito da Terapia do Esquema, pelas mesmas razões do deprimido crônico. O desafio é o de convencer a aderir à psicoterapia. Como em geral ele hipercompensa os esquemas, não sofre visceralmente, mas sente a pressão desses esquemas e, principalmente, sofre as consequências do comportamento provocado pelos estilos de enfrentamento que servem como um paredão protegendo esses esquemas, que são a sua parte "criança vulnerável". Tudo no distímico é muito introjetado, recalcado e reprimido. Ele irá procurar a psicoterapia basicamente para lidar com as consequências do seu comportamento e do reflexo deste nos outros (familiares, amigos, profissão). Uma estratégia que eu uso com bastante eficácia é fazer um levantamento de vida, junto com o distímico, das consequências do seu comportamento. O quanto o comportamento distímico o fez perder ao longo de toda sua vida. Casamentos podem ter sido terminados, empregos perdidos, oportunidades desperdiçadas, isolamento e alienação, amizades muito restritas o quase nenhuma; com isso, fazê-lo enxergar o tamanho do prejuízo na sua vida. Fazê-lo lembrar também de situações bizarras e até engraçadas onde ele se comportou inadequadamente por conta do temperamento e da distimia. Isso ajuda a aumentar a autoconsciência e iniciar o processo de "desidentificação" com essa parte do ego. Em resumo, tudo isso ajudará esse paciente a fazer "cair a ficha" e finalmente aderir ao tratamento.

          Espero que tenha gostado, o assunto é vasto e complexo, com certeza poderia me estender bem mais, mas tentei ser objetivo e esclarecer alguns pontos que, particularmente, vejo como importantes, além de enfatizar na sugestão psicoterápica  na linha da Terapia do Esquema, que, na minha opinião, é a abordagem  mais efetiva, eficaz e poderosa no campo da psicoterapia.
          Se tiver sugestões de assuntos ou dúvidas sobre o tema, deixe o seu comentário.

          Até o próximo post !


          segunda-feira, 31 de outubro de 2016

          A ansiedade e a Terapia do Esquema



          A ansiedade é decorrente de um forte esquema de vulnerabilidade/desamparo que provocou um condicionamento mal adaptativo no cérebro. Faltou na infância a figura do protetor. A necessidade emocional básica de segurança não foi atendida pelo cuidador (pai ou mãe, em geral o pai). A criança (e depois o adulto) sente-se permanentemente inseguro, vulnerável e desamparado e vê o mundo como um lugar imprevisível, perigoso, nutrindo uma sensação de que as coisas estão fora do controle dele e, portanto, ele tem que se proteger, se prevenir ou se precaver projetando pensamentos, tentando antecipar problemas e "adivinhar o que vai acontecer". Esse comportamento basicamente é o que provoca a ansiedade. É preciso descondicionar o cérebro quebrando todos esses padrões mal adaptativos e curar o esquema, reparando a ferida emocional que provocou tudo isso.


          quinta-feira, 27 de outubro de 2016

          Eneagrama - Perfil 9

          Eneagrama - Perfil 8

          Eneagrama - Perfil 7

          Eneagrama - Perfil 6

          Eneagrama - Perfil 5

          Eneagrama - Perfil 4

          Eneagrama - Perfil 3

          Eneagrama - Perfil 1

          Eneagrama - Perfil 2

          quarta-feira, 19 de outubro de 2016

          Coaching

          Myers Briggs

          Mecanismos de Defesa do Ego

          O Trabalho com "Modos" na Terapia do Esquema





          PÓS GRADUAÇÃO EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

          TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO




          O TRABALHO COM MODOS NA TERAPIA DO ESQUEMA




          Apresentado por



          RICARDO B. MELLO







          Rio de Janeiro
          Outubro de 2015
          RICARDO B. MELLO





          O TRABALHO COM MODOS NA TERAPIA DO ESQUEMA



          Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência da disciplina TCC do Curso de Pós-Graduação do Centro Universitário Celso Lisboa, orientado pelos Professores Gil Gomes e Clystine Abram Oliveira Gomes.










          Rio de Janeiro
          Outubro de 2015

          CENTRO UNIVERSITÁRIO CELSO LISBOA

          CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL


          Elaborado por



          RICARDO B. MELLO


          O TRABALHO COM MODOS NA TERAPIA DO ESQUEMA


          Data da aprovação: _____/ _____/ ________

          Banca examinadora

          __________________________________
          Profª Clystine Abram Oliveira Gomes- Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental

          __________________________________
          Profº Gil Gomes – Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental





          Rio de Janeiro
          Outubro de 2015


          RESUMO
          Neste artigo, foram detalhadas e analisadas as estratégias vivencias e cognitivas aplicadas na terapia do esquema, em especial o trabalho com "modos de esquemas", que constituem numa prática psicoterápica avançada e que representa a essência da linha de trabalho da Terapia do Esquema criada pelo Dr. Jeffrey Young, podendo ser aplicada não apenas no tratamento de transtornos do Eixo I e II, mas como em qualquer tratamento no dia a dia da prática clínica. O trabalho com modos, portanto, se constitui numa poderosa ferramenta e estratégia de trabalho para o psicoterapeuta, merecendo com isso um estudo à parte e um entendimento mais profundo do seu conceito. O trabalho com modos é considerado uma inovação, um avanço, um passo além da abordagem cognitivo-comportamental tradicional, pois permite ao psicoterapeuta mobilizar um arsenal de diferentes práticas terapêuticas como a Psicodinâmica, a Gestalt, a TREC (Ellis), a TCC (Beck), a Terapia Dialética Comportamental, o Mindfulness, a Hipnoterapia, a Terapia do Afeto entre outras. Na verdade, qualquer técnica psicoterápica pode ser utilizada no contexto do trabalho com os modos de esquemas. Vai depender da característica individual do paciente, sua resposta e evolução ao tratamento e também a experiência do psicoterapeuta. Além dessa vantagem, uma outra vantagem de se trabalhar com modos de esquemas é que obriga o psicoterapeuta a rever detalhadamente o histórico familiar do paciente, em especial a relação parental remota, suas primeiras experiências de vida, a dinâmica familiar e social na infância, suas frustrações e necessidades emocionais não atendidas, os quais, no âmbito conceitual da terapia do esquema, são os processos geradores dos esquemas e consequentes transtornos do paciente. Portanto, trabalhar com modos de esquema dentro do conceito da terapia do esquema é uma abordagem completa, efetiva e profunda. A terapia do esquema da grande ênfase e desenvolvimento na habilidade do terapeuta na questão que envolve a relação terapêutica com o paciente. Essa habilidade é quase uma peça fundamental para o sucesso dessa abordagem psicoterapêutica, além de tirar o psicoterapeuta e o paciente da suas respectivas  zonas de conforto.
          Palavras-chave: Esquemas. Modos. Psicoterapia                                                             
          1.    INTRODUÇÃO
          Este trabalho foi baseado predominantemente na concepção teórica do Dr. Jeffrey Young descritas em seus dois livros, além da colaboração e inspiração de diversos sítios, vídeos e livros acerca do tema, principalmente no que diz respeito a ideia dos modos como partes independentes, estanques e até contraditórias que compõe a personalidade do indivíduo. Sendo assim, se destacam o trabalho do Dr.Peter K. Gerlach, membro do NSRC (National Stepfamily Research Center) e sua experiência de mais de 30 anos como psicoterapeuta familiar onde o trabalho com “subselves”, “subpersonalidades”, frustrações e feridas emocionais na infância que influenciam os comportamentos neuróticos atuais do indivíduo, se relacionam perfeitamente com o trabalho do Dr. Jeffrey Young na Terapia do Esquema, em especial o trabalho com os modos. Também serviu como inspiração e embasamento teórico a experiência e ideias do Dr. Jonh Rowan. Dr.Rowan é um eminente psicoterapeuta britânico que criou a base teórica da “terapia transpersonal” que diz respeito à desconstrução das nossas “máscaras”, as quais ele classifica como  “subpersonalidades” o que também se coaduna com a base do trabalho com modos na Terapia do Esquema do Dr. Jeffrey Young. 
            É ressaltado que a abordagem com os modos para situações do dia a dia, fora do contexto da psicoterapia, talvez seja um dos principais legados, depois, evidentemente, da cura dos esquemas, haja visto que os pacientes ganham importante expertise e experiência suficientes para trabalhar com os modos de forma autônoma e independente, lidando com seus desafios e experiências de vida, adquirindo considerável aumento da autoconsciência, maturidade psicológica e inteligência emocional.   
          Nos capítulos, primeiramente, será dado ênfase e profundidade ao conceito de modos dos esquemas e suas diversas nuances e desdobramentos começando pela definição, passando pelas classificações e funcionamentos de cada modo. Em seguida, será apresentado um exemplo de caso clínico real onde foi aplicado e vivenciado pelo psicoterapeuta o conceito do trabalho com modos, demonstrado assim sua efetividade, bem como as dificuldades naturais da aplicação dessa abordagem. São sugeridas correções de rumos das sessões diante dos problemas enfrentados. Foram detalhados e aprofundados cada passo ou procedimento, assim como as reações da paciente em questão e sua evolução gradativa.
          2.    ORIGEM E DEFINIÇÃO DE MODOS
          2.1 Origem
          O conceito de modos de esquema foi desenvolvido por Jeffrey Young e equipe (Young,2008),inicialmente para tratar pacientes portadores de transtorno de personalidade borderline tendo em vista o número expressivo tanto de esquemas como de respostas aos esquemas apresentados por esses pacientes, além da característica instabilidade emocional. As constantes oscilações se mostravam muito problemáticas no desenvolvimento e progresso da terapia. Ora os pacientes se mostravam motivados e comprometidos, ora indiferentes e rebeldes, ora deprimidos, ou nutriam intensa raiva, para num momento seguinte, cambiar para um distanciamento. Esse conjunto de fatores se mostrou muito difícil de lidar pelo psicoterapeuta comprometendo a efetividade dos resultados. 
          A conclusão é que se precisava agrupar e definir melhor os esquemas para torna-los mais manejáveis na terapia. 
                   2.2 Definição de modo
          É o conjunto de esquemas adaptativos ou desadaptativos com seus respectivos estilos de enfrentamento que são ativados no indivíduo em determinado momento os quais se agrupam em partes do self. O modo não é a pessoa como um todo é uma “parte” dela. Pode ser denominado como “sub-self” ou “subpersonalidades” (ROWAN, 1993).
          Quando ouvimos expressões do tipo: “meu lado criança”, “minha parte emotiva”, “meu lado crítico”, etc, isso, na verdade, são os modos ativados na experiência. Além disso, modos são estados emocionais, cognições e reações físicas ativados ao mesmo tempo (pelos esquemas) como resposta a determinadas experiências e situações de vida, as quais somos supersensíveis. Em síntese, os modos são respostas aos esquemas. O estado emocional e consequente comportamento que apresentamos em determinados momentos e situações se chamam “modo do esquema”. Na linguagem psicodinâmica os modos são “entidades” com personalidade própria e característica autônoma, independente e estanque tanto dos outros modos como do self. Esses modos não estão conscientes uns dos outros e podem ter diferentes nomes, apelidos, idades, gêneros, histórias, memórias e funções(GERLACH em: http://sfhelp.org/gwc/personality.htm) .
          Modos são como tijolinhos de diversos tamanhos, espessuras, cor e característica que compõe o self como um todo, como um mosaico disforme ou um quebra-cabeças. Muitas dessas peças não se encaixam deixando o retrato desse self disforme e irreconhecível. O indivíduo psicologicamente saudável tem modos reconhecíveis e identificáveis, que funcionam harmônica e funcionalmente. São flexíveis, conscientes, coerentes e não dissociativos, compondo com harmonia um self unificado e bem definido. O funcionamento disfuncional dos modos faz com que eles sejam rígidos, fortes, inconscientes e dissociados do self, semelhante a um indivíduo com transtorno dissociativo de identidade. Esses modos são desarmônicos e caracterológicos.
          Quando um indivíduo tem um esquema, não significa que ele esteja ativado o tempo todo, portanto, os modos podem ficar “hibernados” dependendo das condições ambientais e de vida favoráveis a não ativação dos gatilhos dos esquemas.
          Cada paciente exibe determinados modos de esquemas característicos dos seus esquemas nucleares e secundários os quais são agrupados nesses modos.     Muitas vezes esses modos são contraditórios e entram em conflito dependendo do ambiente e contexto vivido pelo paciente. Exemplo: um paciente com esquema nuclear (principal) de defectividade cuja resposta é o da “criança vulnerável” (resignação) ativado apenas para relacionamentos. O paciente fica carente, sofrido, inseguro. Entretanto, no contexto profissional, esse mesmo paciente apresenta um outro modo (criança exemplar), hipercompesando o esquema de defectividade, criando um esquema secundário subjacente de arrogo/grandiosidade ou busca de aprovação e reconhecimento.  Sendo assim, no ambiente de trabalho o paciente se comporta de modo confiante, arrogante e “exemplar”, totalmente oposto ao que costuma operar fora do trabalho. A situação ficaria ainda mais confusa, conflitante e bizarra caso esse mesmo paciente se relacionasse afetivamente com alguém do seu ambiente de trabalho, parecendo sofrer de transtorno dissociativo de identidade.
          Os modos dos esquemas podem ser adaptativos, funcionais ou desadaptativos, disfuncionais.
          Modo desadaptativo ou disfuncional se apresenta como respostas de enfrentamento que provocam emoções desagradáveis e comportamentos autoderrotistas que dominam por completo a personalidadedo indivíduo. Em qualquer momento ou situação, alguns dos nossos esquemas e respostas a esses esquemas podem estar ativos ou inativos. Vai depender de qual situação que ativará ou não o gatilho de um esquema específico. Consequentemente, o nosso humor está diretamente atrelado a essa condição. Dizemos que estamos operando no “modo do esquema” quando esses gatilhos tiverem sido ativados.
                      O trabalho com modos visa a ajudar os pacientes a cambiar as respostas disfuncionais aos esquemas ativados para modos mais funcionais e adequados, mas isso leva tempo, esforço, habilidade do terapeuta além de paciência, comprometimento e motivação do paciente. É travada uma batalha contra os esquemas e suas respectivas respostas disfuncionais. O objetivo final da terapia do esquema no trabalho com os modos é adquirir consciência psicológica (Young,2008). O terapeuta ajuda os pacientes a identificar os seus esquemas ao nível intelectual e emocional o que envolve recuperar e trabalhar as memórias de infância, emoções, reações físicas, cognições e estilos de enfrentamento para que os pacientes aprendam a exercer controle sobre suas respostas e as tornem mais funcionais e “ecológicas” no sentido de coerência com a situação e o ambiente.
          A terapia do esquema na sua estratégia cognitiva e vivencial onde o trabalho com modos é a principal “arma” no combate aos esquemas disfuncionais, cria novos caminhos e sinapses cerebrais no córtex pré-frontal possibilitando um controle consciente efetivo das reações emocionais amigdalianas onde as experiências que causaram os esquemas foram gravadas, enfraquecendo essas memórias, emoções, sensações corporais, cognições e comportamento associados a eles.
          Não é possível eliminar os esquemas a não ser que as memórias remotas fossem apagadas como no filme “Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças”.
          Em resumo, os modos variam de um indivíduo para outro em várias dimensões (Young, 2008, p.53):

          Dissociado < ====>  Integrado
          Não reconhecido  <====>  Reconhecido
          Desadaptativo <=====>  Adaptativo
          Disfuncional <=====>  Funcional
          Extremo  <=====>  Moderado
          Rígido  <=====> Flexível
          Puro  <=====> Mesclado
          No indivíduo equilibrado, o modo “adulto saudável” é mais forte, frequente e presente e pode moderar e curar modos disfuncionais. Por exemplo, quando sentem raiva, o modo adulto saudável impõe um comportamento adequado e equilibrado, impedindo que as emoções saiam de controle. Por outro lado, pacientes com transtorno de personalidade borderline, por exemplo, geralmente tem um modo adulto saudável fraco de forma que quando o modo criança zangada é ativado o comportamento fica incontrolável.
          Young identificou dez modos de esquema agrupados em quatro categorias (Young,2008):
          ·         Modos criança: criança vulnerável, criança zangada, criança impulsiva/indisciplinada, criança feliz
          ·         Modos enfrentamento disfuncional: o capitulador complacente, o protetor desligado e o hipercompensador
          ·         Modos pais disfuncionais: pai/mãe críticos e exigentes e pai/mãe punitivos
          ·         Modos adultos saudáveis.
          Na terapia, podemos, em conjunto com o paciente, dar apelidos a cada um dos modos.  O modo criança zangada pode ser apelidada de “modo Pit Bull”. A criança vulnerável pode ser o “modo menina carente”.
          O objetivo do trabalho com os modos é acessar a criança vulnerável onde residem os esquemas nucleares: a criança abandonada, a criança abusada, a criança rejeitada ou a criança privada e fazer a reparação parental liberando a raiva, a mágoa, a frustração e o ressentimento recalcados causadores dos esquemas, por intermédio do modo adulto saudável, promovendo a cura.
          A criança zangada é a parte do self que está com raiva por não ter tido suas necessidades emocionais atendidas e com isso age com base nessa raiva sem medir as consequências.
          A criança impulsiva/indisciplinada também não mede as consequências de seus impulsos e desejos do momento e age de maneira irresponsável e negligente tanto para o si mesma como para outros.
          A criança feliz é aquela cujas necessidades emocionais básicas foram atendidas satisfatoriamente.
          Cada modo e suas respectivas respostas de enfrentamento costumam se manifestar em um ou mais grupos de esquemas, por exemplo, no modo “criança vulnerável” (o mais problemático e objeto de trabalho terapêutico), a sensação é de desamparo, impotência e vitimização. A “criança” se mostra assustada, triste, ansiosa e frágil. Nesse modo, podem ser ativados vários esquemas ao mesmo tempo, em cadeia, como o esquema de defectividade, abandono, privação emocional, vulnerabilidade. Pacientes bordeline costumam apresentar essa condição.
          A criança zangada tem muita raiva acumulada e reprimida e este modo pode ativar esquemas de subjugação (hipercompensado), postura punitiva, privação emocional, arrogo e grandiosidade.
          3.    MODOS DE ENFRENTAMENTOS DISFUNCIONAIS
          São três os modos de enfrentamento disfuncional: o capitulador complacente, o protetor desligado e o hipercompensador (Young,2008).
          Esses três modos correspondem aos três estilos de enfrentamentos dos esquemas; resignação, evitação e hipercompensação. O nome dos modos foram alterados para “capitulador complacente”, por exemplo, ao invés de “modo resignação” o que aparentemente seria mais natural, para justamente evidenciar o apelido ao comportamento e sentimento específico. 
          O capitulador complacente corresponde a criança vulnerável, passiva e desamparada que se submete ao esquema (“veste a carapuça”) e também aos outros.
          O modo protetor desligado foge do desconforto provocado pelo esquema ativado, desligando-se psicologicamente do sofrimento, seja abusando do álcool, drogas, se auto-estimulando, evitando as pessoas, se afastando emocionalmente ou utilizando outras formas de fuga.
          O modo hipercompensador reage ao esquema ativado tentando refutá-lo através de um comportamento disfuncional, excessivo, exagerado e desproporcional seja confrontando as pessoas, maltratando-as, controlando-as ou rejeitando-as : “não serei um fracasso”, “jamais serei abandonado ou rejeitado”, “contra tudo e contra todos, eu vencerei”.
          Seja qual for o modo de enfrentamento, todos acabam fortalecendo e perpetuando os esquemas.
          Os modos de pais disfuncionais são pai/mãe punitivo que pune um dos modos criança abusada, criança zangada, criança impulsiva por se comportarem mal.
          O outro modo é pai/mãe exigente que pressiona a criança a cumprir padrões elevados e inflexíveis de conduta e resultados, obrigando-a a se tornar “exemplar”, “perfeita” e “cumpridora dos deveres” e, se possível, excedendo as expectativas. 
          4.    QUANDO USAR A ABORDAGEM BASEADA EM MODOS
          Dr. Jeffrey Young (Young, 2008) sugere que o trabalho com modos de esquemas se mostra efetivo quando aplicado nas seguintes condições:
          a.    Quando a terapia parece estagnada e não se consegue quebrar a evitação ou hipercompensação em relação aos esquemas nucleares e subjacentes. O paciente se mostra muito rígido e fixado aos padrões de comportamento atinentes aos seus esquemas.
          b.    Quando o paciente apresenta um comportamento demasiadamente autopunitivo e autocrítico indicando que o mesmo modelou (internalizou) um comportamento disfuncional do pai/mãe. Este modo pune, corrige e critica o paciente praticamente o tempo todo. Dar nome ou apelidar os modos, neste caso chamando-o de “pai/mãe sargentão”, por exemplo, ajuda sobremaneira a criar um distanciamento entre as partes do self do paciente, como o modo adulto saudável e este modo disfuncional.
          c.    Quando dois ou mais modos entram em conflito e desacordo aparentemente insolúvel ou assumem posições antagônicas criando forte embaraço, confusão e problemas funcionais ao paciente. Neste caso, é desenvolvido nas sessões diálogos entre os modos de forma a criar um “acordo entre as partes”, tendo o modo adulto saudável, desde que bem desenvolvido, atuando como “mediador”.
          d.    E quando o paciente apresenta frequentes flutuações de humor e comportamento, característica de pessoas com transtorno borderline.
          Entretanto, na prática clínica, o trabalho com modos pode e deve ser usado independente dessas condições, haja visto sua extrema efetividade e resultados relativamente rápidos e permanentes. A estratégia é a de psicoeducar o paciente de tal sorte que ele entenda todo mecanismo e dinâmica tanto dos seus esquemas, como dos estilos de enfrentamento e os respectivos modos, a ponto de discutir de igual por igual com o psicoterapeuta sobre estratégias de combate e enfraquecimento dos mesmos, aliando tudo isso com a prática do trabalho com modos nas sessões, empregando técnicas de Gestalt, Terapia Psicodinâmica, estratégias cognitivo-comportamentais de acordo com a resposta do paciente, construindo um entendimento intelectual completo, bem como um distanciamento emocional e uma não identificação com os seus modos e esquemas (egodistonia), tratando-os como se fossem uma parte estanque e não desejável da sua personalidade.
          5.    DEFINIÇÃO E DETALHAMENTO DOS MODOS MAIS COMUNS IDENTIFICADOS
          Conforme já apresentado anteriormente, Young e equipe (Young, 2008) identificaram e classificaram 10 modos agrupados em quatro grupos, a saber:
          Modos criança: criança vulnerável, criança zangada, criança indisciplinada/impulsiva, criança feliz
          Os modos criança são comportamentos infantilizados apresentados pelos pacientes em determinadas situações, como resultado do estilo de enfrentamento aos esquemas ativados principalmente do domínio desconexão e rejeição (abandono/instabilidade, desconfiança/abuso, privação emocional, defectividade/vergonha, isolamento social/alienação) e autonomia e desempenho prejudicados (dependência/incompetência, vulnerabilidade ao dano ou doença, emaranhamento, fracasso).
          Dependendo das circunstâncias de vida e experiências na infância, o modo criança (podendo ser um ou mais modos desse grupo), pode ser reprimido ou fortalecido. 
          5.1  O modo criança vulnerável
          No modo criança vulnerável ativado, o paciente apresenta um comportamento “amuado”, inseguro, sentindo-se desamparado, angustiado, sufocado e vulnerável.
          O paciente nesse modo reage como uma criança que necessita de suporte, proteção e cuidados dos pais, mas que não os recebe. 
          A ferida emocional ou necessidades emocionais não atendidas pelos pais podem ter sido causadas por negligência nos cuidados, a criança permanecendo longos períodos sozinha, os pais batiam e castigavam em excesso, crítica, desprezo ou menosprezo, tratamento diferenciado (os pais demostravam mais amor e apreço aos irmão ou irmão).
          O modo criança vulnerável é o principal modo a ser trabalhado na Terapia do Esquema, pois é o mais disfuncional e agregador de esquemas.
          5.2 O modo criança zangada
          A criança zangada tem um baixo nível de tolerância à frustração e responde de uma forma impulsiva e raivosa quando percebe que suas necessidades ou vontades não estão sendo atendidas. O paciente operando nesse modo é irascível e coleciona muitas histórias e problemas de vida relacionados ao modo em si e aos esquemas agrupados nesse modo que podem ser: abandono, desconfiança/abuso, subjugação, privação emocional, etc.
          Quando se ativa um esquema cuja resposta é o modo criança zangada, o paciente sente-se tolhido, abandonado, subjugado, injustiçado e por isso nutre um sentimento de vingança, uma raiva acumulada e reprimida a qual é projetada nas pessoas e situações que o frustraram. Essas pessoas e situações se transformam em gatilhos dos esquemas e resgatam emoções e memórias dolorosas, remotas, que criaram esses esquemas e suas reações. É como se o paciente estivesse vivenciando as mesmas experiências dolorosas da infância.
          5.3 Modo criança impulsiva/indisciplinada
          O paciente nesse modo age com impulsividade não para agredir ou se vingar, como no caso da criança zangada, mas para buscar a sua satisfação e realização dos seus desejos e necessidades sem considerar as consequências, negligenciando regras e pessoas. Desinibida, irresponsável, livre e inconsequente, a criança impulsiva também tem baixa tolerância à frustração e não consegue se sacrificar no curto prazo visando conseguir um benefício no longo prazo. Uma pessoa funcionando nesse modo é mimada, imatura, descuidada, preguiçosa, impaciente, sem foco e descontrolada. Os esquemas associados a esse modo são arrogo/grandiosidade, autocontrole/disciplina insuficientes.


          5.4 Modo criança feliz
          O paciente nesse modo sente-se amado e com as suas necessidades emocionais satisfeitas. Esse modo não agrupa nenhum esquema desadaptativo remoto.
          6.    MODOS DE ENFRENTAMENTO DISFUNCIONAIS
          Os modos de enfrentamento disfuncionais ou “desadaptativos”, são a forma como o paciente quando criança reagia na tentativa de se adaptar ao ambiente e circunstâncias que lhe foram prejudiciais e de não ter suas necessidades emocionais satisfeitas. Na época, esses modos poderiam ser considerados “adaptativos” uma vez que ajudavam o paciente criança a lidar emocionalmente com as situações, mas esses modos se sedimentaram e permaneceram até a idade adulta. Sendo assim, é perfeitamente razoável afirmar que os modos, de uma forma geral, são uma parte do self que não cresceu e amadureceu.
          6.1 Modo Capitulador Complacente
          No modo capitulador complacente o paciente se submete, aceita, “veste a carapuça” do esquema ativado. O comportamento é passivo, submisso, obediente.  O paciente demonstra clara resignação, medo e ansiedade, nutrindo uma sensação de desamparo e desesperança: “não tem mais jeito. Meu destino é ser infeliz nos relacionamentos”; “Sou um azarado fracassado. Nada do que eu tento fazer da certo”.  Em geral são muito obedientes e subservientes, fazendo o possível para não contrariar seja quem for, incluindo o psicoterapeuta. Acham que não tem nenhuma outra alternativa a não ser agradar as pessoas para evitar conflito, crítica ou rejeição. Se sujeitam até mesmo serem humilhados, desvalorizados apenas para manter a conexão (medo do abandono, crítica ou rejeição) ou algum tipo de retaliação (medo de punição ou de criar problemas para si mesmos).
          6.2 Modo Protetor Desligado
          No modo protetor desligado o paciente usa o distanciamento psicológico ou evitação do esquema como estilo de enfrentamento. Os indivíduos se desligam de outras pessoas, se isolam, se encastelam, fecham-se emocionalmente para se proteger de uma sensação de vulnerabilidade, abandono, fracasso ou defectividade que possam expô-los. O paciente operando neste modo é como se vestisse uma armadura ou construísse um fosso ou muro ao seu redor. Sentem-se vazios, desconectados às situações e pessoas, como se não se importassem, se comportando com cinismo e indiferença: “tanto faz”, “não estou nem aí pra nada”. Com isso, evitam investimento emocional em pessoas ou experiências. Os comportamentos típicos são o isolamento social, indiferença com certo tom de arrogância, pedantismo e cinismo, busca viciante e contumaz por conforto, fantasias, distração ou estimulação compulsiva (vídeo games, filmes, música, TV, comida, sexo, compras, álcool, drogas).
          O modo protetor desligado costuma ser o mais difícil de mudar porque os pacientes se acostumaram desde criança a se proteger desse jeito de forma que entram nesse modo automaticamente. É um refúgio, um conforto ilusório, mas que funcionou muito bem na infância. O problema é que o paciente cresceu, as situações e o ambiente não são mais hostis ou frios, mas o paciente continua com a mesma reação e comportamento e desaprendeu (ou nunca aprendeu) a entrar em contato com suas emoções. O modo protetor desligado é uma reação inconsciente e automática. O paciente aprendeu muito bem a ser assim e vê mais vantagens do que desvantagens em mantê-lo, daí a dificuldade em desconstruí-lo ou enfraquece-lo.
          6.3 Modo hipercompensação
          Os hipercompensadores agem como se oposto do esquema ativado fosse verdade. Caso se sintam fracassados internamente, fazem de tudo para mostrar status de sucesso e o quanto são bem sucedidos externamente. Podem ficar obsessivos em mostrar “sinais exteriores de sucesso”. Caso sintam que inexoravelmente serão abandonados, sabotam relacionamentos e abandonam primeiro. Ao se sentirem subjugados, dominam, controlam, intimidam e subjugam as pessoas. Ao se sentirem inferiorizados, tornam-se arrogantes e tentam desvalorizar as pessoas. Alguns podem ser dissimulados (passivo-agressivos). Fingem obedecer, concordar, mas em segredo se vingam ou adotam um comportamento rebelde por meio de procrastinação, reclamação excessiva, crítica, traições, não-cumprimento da palavra. Outros hipercompensadores são obsessivos, rígidos, inflexíveis, controladores, focados nas suas próprias regras e planejamento e no cumprimento excessivo de rotinas. Muitos vilões de  filmes (e também da vida real) são efetivamente hipercompensadores, assim como figuras proeminentes nas mais variadas áreas como empresarial, artística, esportiva e política.
          6.4 Modos pais disfuncionais
          Nos modos pais disfuncionais, o paciente “modelou”, imitou, internalizou traços,  comportamentos e até os esquemas dos próprios pais. Quando os pacientes estão operando neste modo, tornam-se seus próprios pais e tratam a si mesmos como os pais os trataram na infância. Muitas vezes, assumem a voz do pai ou da mãe e repetem neologismos, palavras, expressões que os pais costumavam falar. Aquela voz interior insistente que critica e corrige o paciente ou o pune por erros é uma mera repetição do que o pai ou mãe faziam com esse paciente quando criança.
          Young e equipe (Young,2008) identificaram e classificaram dois tipos mais comuns de pai/mãe disfuncional (muito embora possam existir outros tipos de modos pais): o modo pai/mãe punitivo ou crítico e o pai/mãe exigente. O primeiro modo, o punitivo, critica e pune implacavelmente e com raiva, tolhendo a criança de suas necessidades emocionais. Os erros são intoleráveis. Os esquemas mais comuns associados a esse modo são defectividade e postura punitiva. Pacientes borderline ou com depressão grave comumente operam neste modo. Os primeiros se punem se cortando por terem se comportado mal, terem sido imorais, indignos de respeito. Os pacientes neste modo são o próprio pai ou mãe punitiva punindo a criança vulnerável. Na verdade, os pacientes alternam sendo o pai ou mãe punitivos ou a criança vulnerável sendo punida por eles.
          O modo pai/mãe exigente pressiona a criança vulnerável para que atinja, e, se possível, supere as expectativas exageradas, desproporcionais e irrealistas por eles formuladas. Há uma forma “certa” para tudo e para todos, principalmente para o próprio paciente, a partir da qual a coisas tem que ser feitas. O pensamento é maniqueísta, preto e branco, binário. Ou uma coisa é certa ou está errada, portanto, intoleravelmente falha. O paciente operando nesse modo carece de espontaneidade. Sente-se pressionado, sufocado e inseguro por medo de falhar. Pode sofrer de ansiedade de desempenho. Os esquemas associados são padrões inflexíveis, postura punitiva e auto-sacrifício  . Esse modo é muito comum em pacientes com transtornos narcisistas ou obsessivo-compulsivo. O paciente entra no modo pai exigente e define os padrões elevados para si mesmo envidando todos os esforços para atingi-los e, caso não consiga, o paciente sente vergonha da mesma forma como sentia vergonha por ter decepcionado pai ou mãe e pode ou não se punir, mas o sentimento de humilhação e vergonha provocam forte sofrimento psicológico.
          Alguns pacientes podem apresentar uma variação ainda mais complicada, numa forma híbrida do pai/mãe disfuncional, sendo crítico, controlado, exigente e punitivo ao mesmo tempo.
          6.5  Modo adulto saudável
          Esse modo é a parte saudável e adulta do self que, na terapia, é orientada a satisfazer as necessidades emocionais básicas da criança vulnerável, zangada ou indisciplinada. Construir e fortalecer o modo adulto saudável do paciente de forma a trabalhar com mais eficácia sobre os outros modos disfuncionais é o objetivo do trabalho com modos na terapia do esquema.
          Embora a maioria dos pacientes adultos disponha de um modo adulto saudável, muitos são ineficazes e não colaboram efetivamente para lidar com os modos disfuncionais. Em indivíduos psicologicamente fortes e saudáveis, o modo adulto saudável predomina sobre modos disfuncionais e até cura os esquemas. Pacientes com transtornos graves do Eixo I e II tem um modo adulto saudável fraco e inoperante. Pacientes com transtorno de personalidade borderline não apresentam o modo adulto saudável ou os tem “atrofiados”. Cabe ao psicoterapeuta ajudar o paciente borderline a desenvolver o modo adulto saudável e torna-lo forte, influente e eficaz na luta contra os modos disfuncionais. O trabalho com modos visa essencialmente isso.
          As funções básicas do modo adulto saudável no trabalho com modos na terapia do esquema, e que se chama “reparação parental remota”, são:
          a)    Proteger, apoiar e dar carinho a criança vulnerável.
          b)    Dar limites a criança zangada e impulsiva/indisciplinada.
          c)    Combate e modera os modos pai/mãe disfuncionais.
          Uma estratégia fundamental no trabalho com modos é a troca de papéis entre o psicoterapeuta e o paciente no desenvolvimento do modo adulto saudável. Ora o psicoterapeuta assume o papel de adulto saudável na reparação parental, ora o paciente assume esse papel com o devido suporte. Um dos objetivos no desenvolvimento da relação terapêutica com o paciente é justamente permitir que o paciente use o psicoterapeuta como modelo de adulto saudável. Com o tempo, o paciente interioriza esse modelo e o assume definitivamente para si no combate aos modos disfuncionais.
          7.    ESTRATÉGIA CLÍNICA PARA O TRABALHO COM MODOS. OS SETES PASSOS.
          ü  Identificar e dar nomes (apelidar) os modos do paciente.
          ü  Explorar a origem dos modos e as vantagens (valor adaptativo) na infância e adolescência.
          ü  Relacionar os modos desadaptativos aos problemas e sintomas atuais do paciente.
          ü  Demonstrar as vantagens de modificar ou abrir mão de um modo disfuncional.
          ü  Acessar a criança vulnerável por meio de imagens mentais e hipnoterapia.
          ü  Realizar diálogos entre os modos, invertendo papéis, desenvolvendo o modo adulto saudável, servindo como modelo de adulto saudável ao paciente.
          ü  Ensinar o paciente a usar o modelo de trabalho com modos no seu cotidiano e fora do contexto da terapia.

          8.    CASO PRÁTICO – Exemplo Clínico
          Paciente, R, 34 anos, solteira, morando sozinha, trabalha como executiva de uma empresa farmacêutica.
          Sua queixa focava nas questões envolvendo relacionamentos afetivos. Se sentia frustrada, desanimada, sozinha, deprimida e sem perspectivas de que pudesse encontrar um parceiro segundo as suas expectativas e idealizações. Ao relatar o seu histórico de relacionamentos anteriores, foi identificado um padrão importante no sentido de que ela se mostrava interessada por homens emocionalmente indisponíveis (que não tinham interesse em manter um relacionamento estável) e quando um potencial parceiro demonstrava interesse ou se dizia apaixonado, ela imediatamente perdia o entusiasmo e a motivação, desenvolvendo até uma repulsa ao pretendente deixando uma evidência de hipercompensação de um esquema de abandono ou defectividade. Tudo isso seria validado no decorrer das sessões posteriores.
          Pontos importantes que devem ser considerados no trabalho com modos da terapia do esquema:
          a)     O objetivo das três primeiras sessões é mapear todo histórico da infância do paciente tentando fazer uma correlação com esquemas, as queixas e problemas atuais, além de desenvolver uma relação terapêutica próxima, empática e de confiança. 
          b)    Já na primeira sessão, deve ser entregue como dever de casa, os dois questionários do Young: o dos esquemas e o dos estilos parentais, mas tente por si mesmo identificar os esquemas e estilos de enfrentamentos durante as três primeiras sessões. O objetivo é  não ser dependente dos questionários. Usar as respostas dos questionários apenas como validação das conclusões e observações prévias. Em caso de divergências, as mesmas devem ser usadas como elemento de discussão nas sessões.
          c)     Pacientes com estilos de enfrentamento como a evitação ou hipercompensação costumam ser dissimulados, não contam detalhes e tentam encobrir a frustração emocional que tiveram: “minha infância foi maravilhosa”. Meus pais eram nota mil”. “Não me lembro de nada negativo”.
          d)    Pacientes que demoram a entregar as respostas dos questionários tem como provável estilo de enfrentamento a evitação e operam no modo “protetor desligado”. É importante ficar atento e trabalhar em cima do comportamento fazendo sempre associações entre o comportamento do paciente, o histórico familiar dele, com esquemas e estilos de enfrentamento. Essa dinâmica tem que ser bem entendida e correlacionada.
          Em relação à paciente R, antes da aplicação do questionário de Young (YSQ-S3 93 Perguntas – Versão curta) e o Questionário de Estilos Parentais YPQ , foram identificados os seguintes esquemas:
          1.    Defectividade (esquema nuclear ou principal).
          2.    Privação emocional (esquema subjacente ao esquema de defectividade).
          3.    Padrões inflexíveis (esquema subjacente ao esquema de defectividade hipercompensado).
          4.    Isolamento social (subjacente ao esquema de privação emocional como resignação aos relacionamentos afetivos).

          Modos identificados:
          1.    R carente (criança vulnerável). Uma resignação ao esquema principal de defectividade. “Deve ter algum problema comigo por não conseguir manter um relacionamento saudável. Não dou sorte nos relacionamentos”.
          2.    R fujona (Modo protetor desligado). R se isola socialmente e fica sozinha “curtindo a fossa” de seus fracassos amorosos. Já até mudou de cidade (de SP para o RJ) por conta de frustrações amorosas anteriores.
          3.    R menina exemplar. Modo hipercompensado do esquema de fracasso, ativado no trabalho. “Sou azarada no amor. Só me resta me dedicar no trabalho. Pelo menos consigo ser o orgulho da família em termos profissionais. Comecei de baixo e já sou gerente. Meu objetivo agora é ser diretora”.
          4.    Mãe resignada. Uma variante do modo criança vulnerável. (R. modelou o temperamento, esquema e estilo de enfrentamento da mãe em se tratando de relacionamentos), se resignando e aceitando a sua condição de “azarada” e “dedo podre” com namorados.
          5.    Adulta saudável. É a parte do self de R que eventualmente atua, mas que precisava ser  fortalecido e se tornar dominante.
          No esquema de defectividade, R sentia medo de ser rejeitada ou de sofrer desilusão e com isso evitava parceiros com os quais se identificava e demonstravam “potencial” porque “o risco de sofrer desilusão era maior”, nutrindo uma crença que ela não nasceu com sorte no amor e que o seu destino é a solidão (modo mãe fatalista ou resignada). Com isso, mantinha facilmente relacionamentos superficiais onde o parceiro não demonstrava muito interesse (risco zero de se decepcionar) mas que acabava ativando o gatilho do esquema de privação emocional, sentindo-se desanimada, frustrada, deprimida, desiludida (modo criança solitária/vulnerável). Com o estilo de enfrentamento hipercompensado no esquema de privação emocional, ela era muito exigente, crítica com amigos, pessoas e ambientes, ativando um outro esquema subjacente que vem a ser o isolamento social cujo estilo de enfrentamento (evitação) reforçava o comportamento solitário e excludente (modo criança solitária/vulnerável).
          No trabalho, R se dedicava, era ambiciosa, confiante e exigente, não lembrando em nada a R dos relacionamentos afetivos.  Sua performance e comportamento no trabalho mostrava uma tentativa de hipercompensar o sentimento (esquema) de menos valia, e defectividade como mulher; “compenso as minhas frustrações amorosas me dedicando à carreira e ao trabalho”.
          Foram usadas as respostas dos questionários de estilos parentais como elemento importante no trabalho de memórias remotas com a aplicação da técnica de imagens mentais.
          Questionada sobre as condições de vida na infância e a relação dela com os pais e irmãos, a princípio ela dizia que a infância tinha sido difícil por conta das limitações financeiras, haja visto que ela tinha mais três irmãos (duas irmãs mais velhas e um irmão também mais velho, sendo ela a “caçula”) e o pai (ausente por  conta do trabalho) insistia em pagar colégio particular para todos e isso impactava negativamente na qualidade de vida da família. Havia muitas restrições financeiras e materiais, mas os pais, em função disso, foram “maravilhosos” e ela não tinha do que se queixar.
          O pai, portanto, ausente e com provável esquema de privação emocional, não demonstrava sentimentos, nem fora amoroso ou até mesmo empático com R. A mãe apresentava um esquema de auto-sacrifício. Se portava como “mártir”, resignada. Não se queixava propriamente do marido, mas das condições de vida por conta das dificuldades. Era a sua missão cuidar os filhos da melhor forma possível.
          R relatou que algumas vezes a mãe oferecia o bife do próprio prato aos filhos e repartia em pedaços iguais para todos evidenciando claramente o esquema de auto-sacrifício.

          8.1 Pontos importantes:
          É fundamental tentar identificar os esquemas tanto do paciente como dos pais, mesmo antes da aplicação dos questionários, os quais servirão apenas como validadores das impressões do psicoterapeuta. As divergências seriam objeto de elementos a serem abordados nas sessões. Conhecer bem o ambiente e as condições de vida e relacionamentos familiares do paciente na infância também é  fundamental. Em geral se levam 5 a 7 sessões desenvolvendo esse tópico (avaliação, levantamento de hipótese diagnóstica, aplicação dos questionários, validação dos questionários, entendimento detalhado e profundo do universo familiar remoto do paciente).
          Deve ser feita uma correlação entre as respostas dos questionários com as observações nas sessões e a hipótese diagnóstica.
          O questionário de estilo parental muitas vezes se mostra mais conclusivo em comparação com o questionário dos esquemas, no entanto, ambos devem estar coerentes e se complementarem. Pacientes com estilos de enfrentamento hipercompensado ou de evitação podem não responder com coerência o questionário dos esquemas, mas o questionário de estilo parental parece mais revelador. Eles se sentem mais à vontade em responder sobre os pais do que sobre si mesmos.
          Trabalhando com modos.
          Após a identificação dos esquemas principais e subjacentes e os estilos de enfrentamento, faz-se a identificação dos principais modos do paciente começando por seguir os sete passos.
          9.    TRABALHANDO OS SETE PASSOS COM R
          Passo 1: Identificando e dando nomes (apelidos) aos modos
          Esse processo é feito “em comum acordo” entre o psicoterapeuta e o paciente no decorrer das sessões e com o avanço do entendimento do paciente sobre o conceito dos modos. O paciente tem que entender o conceito. Perceber que “faz sentido”. Com isso, ele mesmo começará a sugerir nomes e apelidos jocosos e até ofensivos a respeito dos seus modos. E ele também ajudará a identificar os seus próprios modos. É muito importante que o psicoterapeuta estimule e induza o paciente a identificar os seus próprios modos e sugerir os apelidos. No caso da paciente R, ela ajudou a identificar a R fujona, a R carente e a R mamãe resignada ou fatalista. A adulta saudável foi apresentada, identificada e fortalecida ao longo das sessões, já que era uma parte até então não identificada por ela, mas que efetivamente existia.

          Passo 2: Explorando a origem dos modos de R e o valor adaptativo deles ao longo da infância e adolescência.
          Após a identificação e “batismo” dos modos, explora-se a origem dos mesmos relembrando fatos e situações da infância de R que contribuíram para o surgimento do esquemas e consequentemente dos modos e os estilos de enfrentamento. O uso de imagens mentais com relaxamento profundo ajuda sobremaneira o paciente a lembrar das suas experiências remotas. Pode haver resistência por parte do paciente em acessar essas memórias, por terem sido muito dolorosas, traumáticas ou vexatórias. Cabe ressaltar que a lembrança dessas memórias ativam os esquemas dos pacientes e, portanto, devem ser tratadas com cuidado e o máximo de compreensão empática evitando que o paciente repita os estilos de enfrentamento que usualmente recorre. O ponto fundamental neste passo do trabalho com os modos é ativar os esquemas dos pacientes sem que os mesmos se utilizem dos mecanismos de defesa e estilos de enfrentamento usuais, portanto, ele se sentirá exposto e vulnerável. A relação terapêutica, a cumplicidade e a confiança mútua tem um papel fundamental nesta fase do trabalho. No caso de R, houve uma resistência inicial. Ela negava que pai ou mãe fossem os responsáveis pelo seus esquemas. A princípio eles eram “maravilhosos e perfeitos” e ela não conseguia correlacionar suas experiências na infância, na relação familiar com os seu esquemas, estilos de enfrentamento e modos. Foram através das respostas ao questionário de estilos parentais que se conseguiu mostrar a R as contradições e assim, ela compreendeu perfeitamente o valor adaptativo dos seus modos naquelas circunstâncias e conseguiu fazer as correlações necessárias com as situações e comportamentos atuais. A conclusão de R sobre essas questões foi uma prova de que ela entendeu perfeitamente e conseguimos desconstruir a resistência inicial: “Quer dizer que eu, operando com esses modos agora, já adulta, é como se eu fosse ainda criança e reagisse como eu reagia naquela época ?! É uma parte de mim que não cresceu, amadureceu ! “
          Passo 3: Fazendo a correlação entre os modos e o comportamento, problemas e sintomas atuais.
          O modo criança carente ou a R “fujona” foram os modos adaptativos que R criou para lidar com a crítica, indiferença e a frieza dos pais no trato de suas questões emocionais, bem como as frustrações não atendidas na infância e que se perpetuarem até o momento. A forma pessimista e fatalista como enxergava os relacionamentos foi modelado da mãe que agia do mesmo jeito em relação ao marido (seu pai). Como consequência da resposta aos esquemas de defectividade, R acaba sentindo-se atraída por parceiros com esquemas de privação emocional, portanto, frios, distantes, desconectados, críticos e pouco empáticos, cópias exatas do pai. R percebeu que esses parceiros lidavam com ela da mesma forma como o pai lidava. Parceiros potencialmente adequados, afetivos e maduros acionavam o gatilho do esquema de defectividade com resposta hipercompensada (criança fujona). Ela os criticava e subestimava, terminando por rejeitá-los, sabotando a relação. Já para os parceiros “frios”, a resposta ao esquema de defectividade era a de resignação (criança carente). Ela superdimensionava as qualidades ou até mesmo via qualidades que não existiam e subdimensionava os defeitos (como fazia com os pais). Lembrando que no início das sessões, R dizia que os pais eram “maravilhosos”, “calorosos”, “fantásticos”. Esses parceiros frios e distantes a tratavam com desdém, indiferença, crítica ou menos valia, como os pais, em especial o pai, costumava fazer.
          Passo 4: Demonstrando as vantagens de modificar ou abrir mão dos modos disfuncionais.
                      R descobriu por si própria que não há vantagem alguma em manter-se operando nos modos disfuncionais e que eles, na realidade, perpetuam os esquemas e trazem sofrimento psicológico e não oferecem qualquer tipo de defesa ou proteção como ocorria na infância. É primordial induzir e facilitar o paciente para que ele mesmo consiga chegar a essa conclusão para em seguida focar nas vantagens em abandonar ou desconstruir os modos, estratégia essa que, a essa altura, fica muito mais evidente para o paciente. Neste estágio da terapia, o paciente já avançou e progrediu e vem experimentando e percebendo essas vantagens tanto ao nível intelectual como emocional, mediante o trabalho de regressão (imagens mentais) agora com a intervenção no modo “criança solitária/carente” por parte do psicoterapeuta e do próprio paciente através do fortalecimento gradual do modo “adulto saudável”,o que veremos a seguir.
          Passo 5: Acessando e trabalhando com a criança solitária e vulnerável de R.
          Esse passo é o mais importante e o que efetivamente provocou a mudança em R. É o momento em que “a ficha cai” e o paciente não mais se identifica com o modo criança vulnerável/carente, pelo contrário, o paciente o enxerga como uma parte  com a qual não quer mais conviver e muito menos fortalecer. O modo adulto saudável repara essa parte do self do paciente toda a vez que se manifesta até o ponto em que não mais será necessária uma intervenção muito direta. O paciente funcionará no modo adulto saudável na maior parte do tempo, sendo ele próprio o seu psicoterapeuta.
          R concluiu que o seu modo criança carente estava reforçando e perpetuando sua condição em relação aos seus relacionamentos afetivos. Como estratégia de combate, foi reforçado o exercício da auto-observação e atenção plena (mindfulness) de forma que R pudesse mapear os gatilhos e perceber quando a criança carente fosse ativada e, com isso, respondesse de modo adequado e funcional usando a sua parte equilibrada e sábia (adulto saudável) para orientá-la na circunstância e nos julgamentos.
          Foi usada a técnica da cadeira vazia onde R, operando no modo adulto saudável, acolhia e atendia as carências da R (criança vulnerável). Primeiramente R é induzia a lembrar de uma situação no passado que ativava o modo criança carente para em seguida, já no modo adulto saudável, pudesse acolher essa parte de si mesma.
          Antes de chegar a esse estágio, o psicoterapeuta faz o papel de adulto saudável e acolhe a “pobre R carente e vulnerável”. Com o passar das sessões, é  ativado mais e mais o modo criança carente, ao mesmo tempo em que o modo adulto saudável entra em cena e atende ou tenta compreender e reparar a ferida emocional dessa criança vulnerável. Sendo assim, há uma dessensibilização natural do sofrimento da criança carente, há um fortalecimento do modo adulto saudável de tanto que ele aparece e maneja as situações do passado revividas nas sessões. A estratégia é como se as histórias desse passado de R fossem recontadas e tivessem um desfecho ou conclusão diferentes, no caso, uma conclusão ou desfecho favorável ao crescimento emocional e psicológico de R.  
          O passo 5 é o resultado natural de tudo o que foi feito nas sessões até aquele momento e não se constitui num passo isolado. Não se consegue chegar a este estágio da psicoterapia sem que antes tenham sido trabalhado todos os outros passos e procedimentos. Não obstante o passo 5 é um resultado natural do trabalho com modos e um indicador fundamental da evolução e cura do paciente, esse passo 5 pode (e deve) durar várias sessões.
          Passo 6: Realizar diálogo entre os modos. Desenvolvendo o adulto saudável de R.
          Se no passo 5 se acessa e trabalha incessantemente a criança vulnerável/carente de R provocando uma dessensibilização e até uma “banalização” dos fatos passados e consequente reações emocionais, R não via mais esses fatos como “bicho papão” ou algo tão doloroso assim. A sensação é de que foram fatos e situações que lhe pareceram difíceis e traumáticos, mas que agora, sob o olhar do modo adulto saudável, se mostraram perfeitamente manejáveis.
          O diálogo entre os modos criança vulnerável e adulto saudável pode ser feito através de diversas técnicas dentre as quais se destacam: Psicodrama, Gestalt ou Hipnoterapia.
          No caso em questão foi preferido  usar uma abordagem gestáltica, promovendo diálogos entre os modos, fazendo “role play” e aplicando a técnica da cadeira vazia onde R era o adulto saudável, acolhendo empaticamente sua parte carente, representada pela cadeira vazia. O relaxamento médio/profundo do paciente por meio de hipnose, para então realizar esses diálogos entre o modo adulto saudável e o modo criança vulnerável/carente, também se mostrou muito efetivo e foi utilizado. A paciente respondeu bem em ambas abordagens, entranhando um pouco, no início,  as técnicas gestálticas, mas tendo depois se acostumado e aderido com entusiasmo e naturalidade. É importante que o paciente esteja “aquecido” antes de começar o trabalho gestáltico, caso contrário, ele pode se sentir desconfortável e não aderir.
          Da mesma forma como ocorre em todos os passos, em especial no passo 5, o passo 6 também pode levar várias sessões. Não se deve apressar esse procedimento.
          Passo 7: psicoeducar R para que use o trabalho com modos em situações de vida fora as sessões.
                      Esse passo se torna quase como um resultado natural desse trabalho com modos. O paciente ganha uma enorme expertise em relação aos procedimentos e ao conceito em si de forma que pode perfeitamente usá-los em situações fora do escopo da psicoterapia. R aprendeu a se manter consciente o tempo todo através dos exercícios de atenção plena (mindufulness) de forma a se observar com profundidade. Quando as experiências se mostram desafiadoras, R percebe as suas reações emocionais e físicas, bem como o seu comportamento e se pergunta: “em que modo estou operando agora?” Na prática da auto-observação, R aprendeu que a observadora é o seu modo adulto saudável e portanto, ela corrige reações e comportamentos relativos as experiências, operando efetivamente nesse modo (“a minha parte sábia”, diria R).
          10. A REESTRUTURAÇÃO DOS ESQUEMAS DE R POR MEIO DO TRABALHO COM MODOS
          Ao longo de 8 meses e 16 sessões, o nível de autoconsciência de R aumentou drasticamente. Ela desenvolveu um distanciamento psicológico dos modos disfuncionais e dos esquemas correspondentes, não mais se identificando com os padrões de comportamento que provocavam sofrimento, instabilidade emocional e distorção cognitiva. A parte saudável do self (adulto saudável) predominou sobre os modos disfuncionais que se tornaram fracos, quase inoperantes. Quando uma situação ou experiência ativa um gatilho de um esquema disfuncional, a resposta ao esquema é funcional, adequada, coerente e equilibrada, fazendo com que R tenha mais controle sobre suas reações, comportamento e sua vida, principalmente na escolha de parceiros em relacionamentos afetivos. R se comprometeu com o psicoterapeuta a mantê-lo informado quanto aos seus progressos, principalmente em relação a esse aspecto da sua vida (relacionamentos afetivos). Foram combinadas sessões “avulsas” caso sejam da vontade dela que demonstrou plena convicção de que saberá lidar com suas questões e desafios simplesmente aplicando tudo o que aprendeu ao longo da psicoterapia no trabalho com modos.
          CONCLUSÃO
          O trabalho com modos, como parte fundamental da terapia do esquema,   transparece ser eficiente e representa um avanço na abordagem clínica-terapêutica dada a sua efetividade e profundidade. Requer prática e experiência no manejo, principalmente em termos de estudo de Psicodinâmica, Terapia Cognitivo Comportamental, Hipnose e Gestalt e pode muito bem ser aplicado como linha de trabalho principal do psicoterapeuta cobrindo os mais diversos casos clínicos. A quebra de padrões de comportamento pela não identificação com esses padrões ou “modos” se mostrou consistente e à prova de recidiva. Além disso, o paciente aprende a usar a técnica para situações práticas e experiência de vida pós-terapia, proporcionando um aumento considerável do seu nível de consciência, maturidade e inteligência emocional, operando no modo “adulto saudável” na maior parte do tempo, tornando esse paciente o seu próprio psicoterapeuta.
          REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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          WAINER Ricardo,Terapia Cognitiva Focada em Esquemas: Integração em psicoterapia. Porto Alegre: Artmed, 2015
          GERLACH K. Peter. We have many personalities subselves. Disponível em: http://sfhelp.org/gwc/personality.htm
          ROWAN Jonh, Discover Your Subpersonalities: Our Inner World and the People in it, London: Routledge,1993
          ALFASFOS Lubna - The Early Maladaptive Schemas and their Correlations with the Psychiatric: Symptoms and the Personality Accentuations for Palestinian Students. 152f, 2009. Dissertation: Submitted to the Psychology Faculty of Hamburg University in Partial Fulfillment of the Requirement for the Degree of Doctor of Philosophy, Hamburg
          YOUNG Jeffrey E. & Klosko, J.S., Reinventing your life. New York: Plume, 1994